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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

PostHeaderIcon " Chaves perdidas "

"Eu estava sentada na cama,fingindo ter sono enquanto a casa ecoava silencio. Precisava de uma distração,algo pra fazer,algo pra comer,algo pra pensar,e antes dos “algos” eu precisava de alguém. Alguém pra conversar,alguém pra me ouvir, alguém com aquela risada escandalosa que fazia em mim outra crise de riso incontrolável . Mas ele não estava ali,no quarto. Nem na cozinha,nem na varanda esticado bem preguiçoso na rede . Na verdade,ele não estava ali fazia dois meses. Mas por que eu fui me desesperar com a ausência dele,só agora? Afinal, foi um trato,um acordo essa despedida entre nós. E bem, eu não iria bater no portão dele. Não enquanto o meu orgulho não mudasse de nome. Era demais pra mim admitir que senti saudade,sem a  certeza de que isso era reciproco.
      Levantei-me para alcançar nas ultimas prateleiras os álbuns de velhas fotografias. Eram muitas,organizadas na ordem cronológica, a medida que os fatos vivenciados foram desenrolando-se em enredo. As primeiras denunciavam minha infância, o colo maternal onde era meu lugar,meus primeiros passos,e uma menina de bochechas grandes que era o xodó dos avos,vestida por um vestido branco de babadinhos e renda,rodeada por brinquedos. Nas próximas,uma garota sapeca,de sardas na cara e tranças no cabelo. Ao decorrer das fotos,o olhar de criança foi perdendo lugar pro batom vermelho nos lábios. As fotografias da formatura coma  turma reunida,me fazia identificar minhas primeiras paixões e notar a forma como fui perdendo as amizades que jurei eternas. Mas foi quando finalmente chegava ao fim do álbum,me deparei com aquele retrato que durante todo nosso romance,morou num porta retrato,em cima da cômoda. Eramos nós dois ali,abraçados , e se não fossemos,fingíamos muito bem sermos felizes.
     Avistei o porta-retratos,tombado. Se quer exitei na certeza de que ele estava vazio. Com aquela fotografia em mãos,eu sentia o peso do tempo vazar por entre os dedos. Analisei cada traço do seu rosto fazendo careta,e percebi pela primeira vez que a sua presença resgatava em mim algo eu deixei perder enquanto crescia. Não sabia explicar ao certo, mais ficava evidente no brilho do olhar,no sorriso espontâneo,no timbre da voz. Enquanto mergulhava dentro de mim mesma,ouvi um ruido na cozinha. Pensei: além de não assumir a mim, que não posso viver sem ele,tenho minha casa invadida por um ladrão. Não seria mesmo,meu dia de sorte.
    Senti medo,não queria me certificar de que a hipótese poderia ser verdadeira. Então apenas fechei os olhos e esperei que não existisse barulho de novo. E eu ouvi os passos percorrendo o corredor e cessando bem em frente a porta do quarto em que eu me encontrava. Apertei os olhos com força, mas os ouvidos estavam bem abertos quando ouvi uma voz, a voz dele. O barulho era ele,a voz era dele, o cara da foto era ele, melhor abraço era o dele, o dono dos meus beijos era ele. E ele vinha, com uma panela de brigadeiro e duas colheres na mão, estava com o cabelo bagunçado e o perfume que eu gosto. Apenas sentou na  beirada da cama,bem na pontinha e disse:
    __ Olha,eu só entrei porque passava aqui na frente por coincidência e encontrei o portão aberto e precisava saber se estava bem. Bom, aí eu perdi as chaves,que descuido meu. Peço que me perdoe. Acho que agora vamos ter que viver juntos pelo resto da vida."

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